terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Mas nem eu sei.


Há quem pense que não sou sempre a mesma pessoa. Por vezes sou inconstante e inconsciente. Por vezes sou a mais calma e ciente, de todos. À minha volta. Furacões podem correr o espaço por onde caminho que eu não desvio um centímetro a minha rota. À minha volta. Uma folha seca pode cair no meu caminho, se eu sentir que vale a pena levo-a pra casa comigo e deixo-a descansar. Se estivesse a ir pra um outro lugar, levo-a pra casa. Sim. Volto atrás. Trago comigo, no caminho, muitas folhas que já foram secas e hoje são verdes. Têm vida. Folhas que foram sonhos que tinham um fim à vista. Têm vida, agora. Folhas verdes que tornaram os meus sonhos reais. Não sou sempre a mesma. Conhecer-me não é fácil. Perceber-me muito menos. Não deixo? Não! Apenas não consigo! Mas posso fazer com que as folhas secas voltem à vida. Se me deixares. Deixas? Eu quero, não sei se posso, mas quero. Então querer não é poder? É se tivermos coragem de lutar para ter o poder de querer. Realiza-te! Não, eu não estou realizada, nunca vou estar! Já sabes. Sim, isso tu já conheces. Quero sempre mais. Nunca estou satisfeita. Psiuuuu. Sim, tu! Foste uma folha seca que caiu no meu caminho... Eu sei que estavas seca, seca, seca... Hoje será que te sentes verde? Viva? Presumo que sim. Levei-te para casa, voltei atrás no meu caminho e levei-te para minha casa. Vi-te a começar a ganhar vida. No início não querias. Sofri! Eu, dura, chorei... Como eu te tornei a cada dia mais verde, tu tornaste-me a cada dia mais eu. Mais de mim. Mais. Sou inconstante. Superficial. Fria. Inconsequente, que já deixou folhas verdes secarem. Mas sei que essas que secaram encontraram outro alguém que também lhes soube dar vida. Podiam querer não secar na minha mão, mas eu sei que era assim tinha que ser. E a ti, também houve quem te deixasse secar! Para que pudesse ser eu a por-te viva, verde, fresca. Feliz? Diz-me que sim. Folha verde que caiu seca no meu caminho. E eu. Quente. Também aprendi. Eu também aprendo. Eu não sei tudo. Ninguém sabe. Tu sabes? Sabes se gostaste de ser apanhada por mim? Ou estarias à espera de ser salva por um ninguém diferente do meu alguém? Furacão. Fui eu. Já fiz muitos. Passo por eles e nem me desvio. Tu sabes que sim. Dizes-me uma exagerada sem remédio. Uma lágrima fácil sem cura. Uma carente eterna.
Castanhos são os que me olham de cima a cima, de lado a lado, de baixo a baixo. São teus, os castanhos que contrastam com os meus verdes. Já falo outra vez em cores, nas das folhas de que te falei antes. Vivo sem dó e outras vezes com piedade. Gosto de dar e de receber. Vou apanhando folhas que ajudo a que fiquem verdes mas se sei que não valem o tempo de me baixar, deixo-as! Querem ser deixadas e pisadas! E tornarem-se pó! Querem? Sim querem! Então deixa-as! Eu deixo. Não sei parar de amar. Sou amante. Intensamente. Bruscamente. Num suspiro, fui tua minha folha que ajudei a esverdear. Tenho tanto para te dizer. Ainda. Tenho tanto para te contar. Ainda. Não sei por onde comecei nem saberei quando terminar. O meu caminho retrocedeu para casa no dia em que te apanhei. Julgaste-me tua. O meu caminho continuou no dia em que ficaste verde, viva. Vida. Vida. Vida! Só no dia em que voltaste para mim é que o meu caminho continuou! E foi tão dura aquela pausa... Tão dura. Mas água mole em pedra dura tanto bateu que furou e seguimos e continuamos hoje a seguir caminhos cruzados. Os nossos. Já nem são caminhos cruzados. São um só caminho. E fui eu que os cruzei e foste tu que os uniste. Num só. Sou eu. Achas que os outros me conhecem? Nem eu me conheço. Linhas. Preto no branco. Podiam ser escritas e nada de claro. Podiam ser rabiscadas. Com palavras. Simples. Sentidas. Talvez lhes dissessem alguma coisa mais clara os meus rascunhos. Sou eu. Pensas que me desconhecem? Não. Sou eu. Sabem que sou eu, mas não sabem quem sou eu. Tu sabes. Pensas que me conhecem? Não. Não conhecem. Pensas que sabem quem sou? Sabem porque me vêem de fora mas têm dúvidas porque não me sentem por dentro. E tu? Sentes? Sim. Então tu sabes. Mas nem eu sei.

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