terça-feira, 29 de junho de 2010

Capacidades

Entre o amor e ódio há uma linha tão ténue que chego a confundir os dois sentimentos. Depois até duvido se algum deles exista, ou até se não será tudo o mesmo, mas o amor, a calma e o ódio o reboliço. Confundem-me. Não que eu odeie alguém, mas a raiva que algumas coisas me provocam, ou melhor, a dor que algumas coisas me provocam, fazem o com que o amor que sinto grite tão alto, mas tão alto e faça algo, lá dentro (aquele sítio abstracto chamado coração), sentir de maneira tão abrupta, que até parece ódio. Calma, porque não é. Nos dias piores, penso que é impossível existir amor e logo não te posso odiar. Mas penso também que só quem um dia amou é que tem a (fraca) capacidade para odiar.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

love (?) will tear us appart.

Hoje era um daqueles dias em que era capaz de deixar tudo, a ti incluído e ir viver a minha vida do outro lado do mundo. Literalmente. Nunca perceberás o que sinto, como sinto, a intensidade que o teu sorriso provoca em mim. A calma que o teu olhar me dá. Eu olho para ti com todo o amor que tenho e tu nunca reparaste nisso. Vês-me: uma rapariga à tua frente que diz que gosta de ti, com um top branco, uns jeans desbotados e umas sandálias de salto alto, com um cabelo ondulado, comprido e com as unhas pintadas de uma cor qualquer, rosa, lilás, vermelho. Não vês mais nada em mim, não vês como te quero, não vês como preciso de ti, não vês que te amo. Não vês, nunca verás. Não percebes isto e nunca perceberás.

sábado, 19 de junho de 2010

Feliz aniversário - de mim para mim

Se há coisa que me deixa nostálgica é o dia do meu aniversário. Não gosto de fazer anos. Começo a fazer a contagem, um mês antes. O momento da meia-noite, quando começo a receber os parabéns é um misto de alegria e tristeza. Mas afinal porque fico triste? Estou viva, tenho uma vida melhor que mais de 2/3 da população mundial, tenho ao meu lado pessoas que gostam de mim! Fico triste porque me lembro de todas os que passaram na minha vida, os que saíram porque quiseram, os que foram porque a morte os chamou. Aqueles que vão estar sempre comigo, que me marcaram e hoje não estão cá. Lembro-me dos maus momentos que aconteceram nestes anos. Dos bons também me lembro, mas desses lembro-me quase todos os dias. Posso dizer que vivo em função dos bons momentos, de quem me faz feliz. Deprimo sempre no dia 19 de Junho. E sinto que vai ser assim, nem que eu viva 100 anos. Gosto de ter um momento só para mim neste dia. Estou a tê-lo agora. A pensar, nem sei bem em quê. Há anos em que escrevo um poema, noutros oiço música enquanto penso e respondo aos parabéns que me vão dando. Este ano acabei de ficar sem vontade de nada. Convidei amigos, os meus amigos de sempre e os meus novos amigos para festejar. Já fiquei sem motivos. Duas pessoas de quem gosto muito desiludiram-me. Por isso é que o meu coração anda choramingão. Por isso é que lhe atendi o telemóvel a chorar. Nada me deixa mais triste do que ver o amor que dou ser posto de lado por caprichos de vista e por manias de não ser fiel com tudo o que se tem. Mas isso passa. Passa. Hoje, à tarde, resolvo isso. E os 21 já estão marcados, assim como os 16 ficaram. As mensagens continuam a chegar. Há os que gostam de mim de verdade, os que simpatizam, os que conhecem de vista. Todos me dão os parabéns. Sabe bem. Mas a nostalgia está de tal modo acomodada que já nada a tira daqui neste dia. Nasci. Penso tanto neste dia, para pelo menos uma vez no ano renascer, avaliar quem sou, quem fui, quem quero ser! Gosto de o fazer, e no fim do dia, destas 24h agri-doces, estar com um sorriso nos lábios porque não sendo perfeita, sei que sou alguém fiel aos seus princípios e que se me perguntassem que se eu não fosse eu, seria minha amiga, respondia que sim. Os defeitos sei-os de cor, as qualidades vou descobrindo-as ao longo da minha vida e das vidas que se cruzam com a minha. Teria muito mais a dizer. Mas neste momento estou apenas a senti-lo. Os objectivos a cumprir neste novo ano de vida estão traçados. Agora é lutar por eles, lutar por mim.
Mais um ano, nesta vida.
Como se diz, 21 primaveras.
Já! Passou tudo tão rápido.
Sinto que ainda não fiz nada!
Sonho tanto! Tenho tantos medos!
Nus 21. Crus, repentinos.
Felizes? A maior parte deles, sim.

sábado, 5 de junho de 2010

Estava vazio...

Fugiu. Fugiu para lugar desconhecido. Fugiu porque aquele olhar que já lhe brilhara um dia, muitos dias, aquele olhar que já lhe transmitira paz e segurança, aquele olhar que era amor, carinho, ternura, se transformara. As palavras soaram duras, tão duras que nada as quebrou, a palavra, aquela da qual se arrepende todos os dias, soou arrepiante, cortou o silêncio daquela noite estrelada e que fora imaginada feliz mas cuja felicidade não se concretizou. A palavra, ecoou.
Odeio-te!
Odeio-te!
Odeio-te!
O olhar dele estava diferente, o olhar dele já não era terno nem meigo nem calmo nem brilhava nem tinha amor. O olhar dele gelou, o olhar dele estava vazio. E o dela ficou molhado, escorreu pela face e fê-la sentir-se sem norte, sem rumo, sem nada, o seu interior estava vazio. Só conseguia fazer uma coisa, gritar, gritar que não! Não o odiava, que era mentira. Que o queria mais perto do que nunca, mas da cabeça dela não saía o olhar vazio e gelado dele, da cabeça dela não saía o olhar mais triste e sincero que vira. Sentiu que o perdeu. Não como das outras vezes, desta vez era para sempre. O seu coração já não sentia nada, já não tinha esperança. Estava vazio como o olhar que viu naquela noite estrelada.

Texto para a Fábrica de Letras em resposta ao tema de Junho.