sábado, 24 de julho de 2010

Disparou

Mudar de casa, não é mudar de vida. Nunca foi. Mas há quem ainda alimente essa ideia na esperança que tudo seja o que nunca foi. Ela acreditava.
Os primeiros dias foram fantásticos, alimentaram o sonho de sempre, o sonho que nunca se tinha realizado. Pensou que sim, era agora que iam ser felizes. Os dias passaram e a casa já parecia a antiga, já não estava sempre arrumada, os cuidados diminuíram. Assim como ele. Voltou a sair para lugares incertos, sozinho, e a chegar a horas incertas. Voltou a deixá-la sozinha naquela casa que era grande demais para apenas uma pessoa. A televisão enchia-lhe a casa e fazia-a esquecer de uma realidade que sempre viveu, com ele. Uma realidade que nunca ia mudar. Francisca era linda, sorridente. Não deixava que ninguém soubesse o que se passava no seu coração, na sua cabeça. Julgavam-na feliz apesar de saberem a vida que levava com ele. Um dia ele chegou, eram 01h34 da manhã, viu ela no mostrador do despertador de números vermelhos. Bateu com as portas, chamou-a, estava bêbado, como sempre, pensou ela. Reclamou da sopa que já tinha ficado fria, queria discutir com ela como se ela tivesse culpa dos copos que sempre bebe a mais. Francisca não aguentava mais. Foi ao quarto, mudou-se enquanto ele gritava para que ela voltasse, voltou vestida, e com um pequeno saco na mão. Abriu a porta. E disparou! Porta fora... Sem voltar o olhar para trás. Não olhou e correu até não poder mais. Tinha chegado o dia de ser feliz.




Texto subordinado ao tema Disparou, para a Fábrica de Letras


sábado, 17 de julho de 2010

Sublime.




Faz-me bem.

Rodrigo Leão - As cidades

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Amar é gostar muito.
Adorar é venerar.

Já não estou zangada com o amor, nem comigo, nem contigo, nem com o gostar, nem com nada.

Estou bem.

domingo, 11 de julho de 2010

Alma insatisfeita.

Sinto-me a deambular por mundos que só conheço de vez em quando.
Há muito que não me sentia tão perdida dentro de mim mesma. Não me conheço. O melhor que sei para explicar como me sinto, é dizer que me sinto na pele de Fernando Pessoa. Sinto-me nele. Todos os seus poemas, devaneios, busca de alma, busca de um eu que não conseguimos conhecer nem alcançar. Sinto-me assim.
Não me conheço. Não sei quem sou. Não tenho controlo sobre mim, apetece-me gritar, chorar. Fazer um escândalo em frente a meio mundo e depois rir-me. Porque ninguém tem nada a ver com o que eu sinto. E tudo o que sinto é só em relação a mim. A alguém que tenho dentro de mim e não conheço. Que de vez em quando se revela e me põe exposta a todas as emoções, deste mundo e do outro.
Posso-me rir. Posso chorar. Dançar. Gritar. Cantar. Não me conheço hoje. Tenho dupla personalidade. Eu sei que tenho e sinto que tenho, mas só tem a ver comigo. Não tem a ver contigo. Tenho esta loucura inexplicável de não querer ninguém perto de mim. De querer estar sozinha e pensar em coisas que mais ninguém pensa. Sou louca. A minha alma é louca. Mas se olharem para mim, sou normal. A nossa alma, o nosso ser, é o lugar mais obscuro de nós. E eu só tento conhecê-lo. Incansavelmente.







Certeza

Devia sentir menos e agir mais.
Porque é que há músicas de amor?
Porque é que o mundo gira à volta do amor?
Porque é que se passam anos à espera de ouvira daquela boca "és o meu amor"?
Porquê?
Se nada disso existe.
Se as mulheres idealizam demais.
Se os homens idealizam de menos.
Se há homens que amam realmente e não têm quem querem.
Se há mulheres que amam quem não lhes dá valor.
Porquê?

sábado, 10 de julho de 2010

Nomenclaturas

"Isso do amor, é estranho.
Toda a agente diz que ama, para todo o lado.
Não sei o que é.
E se lhe chamarmos electricidade?
Dá choque."

Assim fico mais descansada.
Gostas de mim a sério.
Falar de amor é desnecessário.

Sente-se apenas.





segunda-feira, 5 de julho de 2010

Não

Hoje é apenas mais um dos dias em que penso que para os dois podermos ser felizes, temos que nos deixar. Temos que ir embora os dois. Nunca mais nos vermos. Não vejo outra maneira de sermos felizes. Porque estar perto de ti sem estar contigo é muito mais complicado que estar longe e já não fazer parte da tua vida. Porque estar perto de ti sem poder estar contigo faz-me confusão. Não me deixa pensar noutra coisa senão em ti e se também estarás a pensar em mim. Odeio quando me recebes com mil pedras em cada mão e atiras como se não me magoasse ou como se já fosse normal receberes-me assim. Se calhar até é. Somo assim: de extremos. Ou contigo totalmente ou completamente sem ti. Sermos parte um do outro sem estarmos juntos fisicamente não dá, definitivamente, para nós. Não dá. E não há volta a dar.