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sábado, 24 de julho de 2010

Disparou

Mudar de casa, não é mudar de vida. Nunca foi. Mas há quem ainda alimente essa ideia na esperança que tudo seja o que nunca foi. Ela acreditava.
Os primeiros dias foram fantásticos, alimentaram o sonho de sempre, o sonho que nunca se tinha realizado. Pensou que sim, era agora que iam ser felizes. Os dias passaram e a casa já parecia a antiga, já não estava sempre arrumada, os cuidados diminuíram. Assim como ele. Voltou a sair para lugares incertos, sozinho, e a chegar a horas incertas. Voltou a deixá-la sozinha naquela casa que era grande demais para apenas uma pessoa. A televisão enchia-lhe a casa e fazia-a esquecer de uma realidade que sempre viveu, com ele. Uma realidade que nunca ia mudar. Francisca era linda, sorridente. Não deixava que ninguém soubesse o que se passava no seu coração, na sua cabeça. Julgavam-na feliz apesar de saberem a vida que levava com ele. Um dia ele chegou, eram 01h34 da manhã, viu ela no mostrador do despertador de números vermelhos. Bateu com as portas, chamou-a, estava bêbado, como sempre, pensou ela. Reclamou da sopa que já tinha ficado fria, queria discutir com ela como se ela tivesse culpa dos copos que sempre bebe a mais. Francisca não aguentava mais. Foi ao quarto, mudou-se enquanto ele gritava para que ela voltasse, voltou vestida, e com um pequeno saco na mão. Abriu a porta. E disparou! Porta fora... Sem voltar o olhar para trás. Não olhou e correu até não poder mais. Tinha chegado o dia de ser feliz.




Texto subordinado ao tema Disparou, para a Fábrica de Letras


segunda-feira, 8 de março de 2010

Silêncio, uma realidade que já existe há muito tempo.

Hoje estava na paragem de autocarros e estavam uns dez miúdos talvez com 10, 11 anos. Estava um a chamar nomes (gordo, porco..) a outro e os outros todos a rirem. O miúdo gozado dizia para pararem mas ainda gozavam mais e davam-lhe encontrões. Ele veio para mais perto de mim e veio uma miúda que disse "Oh, ele nem fala! Ah, pois! os porcos não falam!" e todos os outros riram! Apeteceu-me sair à estalada neles todos! Eu já estava a perder a paciência, sempre detestei estas cenas e sempre fiquei do lado dos que são gozados, mesmo que o fosse também. O miúdo estava quase a chorar e os outros ao notarem, gozavam e riam ainda mais e entretanto chegou o autocarro. Todos entraram e ele ficou pra último e fui ao pé dele e disse-lhe pra ele tentar não lhes ligar, que eram um bando de estúpidos. O miúdo disse que sabia disso e que não ligava, mas estava mesmo quase a chorar e eu entrei no autocarro com as lágrimas nos olhos. Sempre odiei isto, corta-me o coração! É que são sempre 10 contra um, ou mais! A minha melhor amiga passou isto durante alguns anos, todos os dias, porque era mais magra que os outros, uma vez na sala de aula cortaram-lhe o casaco novo com uma tesoura! No 7º ano, quase toda a turma deixou de falar comigo e outra amiga nossa porque éramos amigas dela. Agora tudo passou, mas sei que essas crianças sofrem muito e se eu pudesse ajudava-os a todos, mas a verdade é que não posso! E eles mantêm-se no silêncio. Não dizem nada a ninguém e sofrem muito. Por isto é que eu digo, há crianças e crianças, e há criaturas más que só estão bem a fazer mal aos outros! Infelizmente isto é uma coisa quase impossível de parar! A minha mãe diz que há-de ser sempre assim, eu gostava de acreditar que não, mas não acredito.